sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Estamos sós



Numa máquina a propulsão nuclear
Viaja uma tripulação de ideias.
Novos seres imperturbáveis
Propagam-se à velocidade da luz.
 
Talvez alguma colisão semântica
Possa haver entre um conceito
Oriental e um hipérbato camoniano
Mas nada será como dantes.
 
Nada resta para corromper.
O último homem morreu
Ontem, numa agonia singular
De singular solidão.


Tripulava a última nave

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mutação


As crianças foram brincar
Para junto das janelas dos corredores da nave.
 
Colocaram as mãos na transparência dos vidros
Fecharam os olhos e calaram-se.
 
Os mais velhos de entre nós compreenderam.
Anotaram, então, a segunda mutação:
 
Elas sentem o crepitar do cosmos
E brincam em silêncio

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Fotossíntese


Quando a palavra árvore
Saiu da boca dos mais velhos de nós
Uma onda desconhecida de pesar
Percorreu o meu sangue
 
Despertou um saber escondido
E a filigrana das minhas veias
Sentiu as ondas desconhecidas de pesar
Dos corpos mais novos


E com tanta luz de tantos sóis
Os nossos olhos curiosos na procura
Dispersaram-se pelo espaço
E ficaram maiores
 
Anotaram então a primeira mutação

domingo, 7 de julho de 2013

Racional



Espontaneamente deu-me medo o imperturbável silêncio do espaço.
Inquietou-me também a minha finitude,
Tantas estrelas, todas as estrelas…
A perceção humana não alcança o infinito,
Nem o tempo que falta para chegar.
Então, de que nos serve a vontade

Entranhas



A última explosão de ódio
Foi há um ano luz.
Bastou o dedo no botão
Para percorrer um terço da galáxia.

Novamente estou em silêncio,
O meu interior está limpo e puro.
Todas as engrenagens funcionam perfeitamente
E através dos meus olhos observo

A verdade narcísica do escuro